São Paulo, 15 de setembro de 2023
Hoje é sexta feira, e acordei com um ótimo humor. Não que eu tenha tendência para acordar mal humorada, sou daquelas que, normalmente, às 7 da manhã já está cantando. Mas, hoje em especial, eu estava tendo um dia muito bom, até as 11h30 da manhã.
Dormi bem, acordei com o som dos pássaros, me alonguei, meditei, fui trabalhar cedinho no café que eu gosto, e de lá, fui para o pilates, às 11h. Quando cheguei na porta, tinham 3 pessoas saindo, e eu conhecia duas delas. Cumprimentei e desejei um bom final de semana. Subi as escadas feliz, pensando: "que delícia fazer pilates aqui, todo mundo é tão gente boa."
Tenho certeza que nessa hora os caras lá em cima que escrevem e assistem nossa vida (se é que isso existe) estavam rindo, afinal, eu não fazia ideia de que, em alguns minutos, minha percepção sobre isso mudaria.
Chegando na sala percebi que tinha um homem diferente na minha turma habitual, mas até aí, tudo bem. Comecei os exercícios e o falatório com minhas colegas de pilates, como sempre. São senhoras na faixa dos 60+ e a gente adora conversar durante as aulas. A verdade é que, agora, eu nem sei se elas realmente gostam tanto de falar quanto eu. A real é que eu sou bastante tagarela! Não pode me dar espaço que eu já tô abrindo a boca.
E isso, claramente, incomodou o homem novo que estava na minha turma naquela sexta feira.
Em poucos minutos de aula, em meio a minha conversa com uma das senhoras sobre como seria o aniversário da minha irmã naquele dia mais tarde, o moço novo virou para mim e com uma grosseria sem tamanho disse algo do tipo: "como você fala hein menina?! Que insuportável, não aguento mais ouvir a sua voz!".
Na hora fiquei em choque com tamanha agressividade e me calei.
Veja bem, eu não sou uma pessoa de me calar. Se alguém me taca uma pedra, meu instinto é tacar outra de volta. Mas, fiquei quieta o restante da aula.
Ele ainda continuou resmungando sobre isso mais algumas vezes, o que deixou o clima da aula horrível e ninguém ousou abrir a boca para conversar outra vez. Terminamos todos em silêncio.
Passei a aula processando os diversos sentimentos que aquela situação me causou: raiva, indignação, tristeza, vergonha.
A aula acabou e, ao descer as escadas indo embora, vi que ele, que tinha acabado a aula antes de mim, ainda estava parado do lado de fora, fumando.
Eu poderia simplesmente seguir reto e ir para casa, ou, parar para conversar com ele. E, sem dar muito tempo da minha cabeça pensar, eu escolhi a segunda opção.
Parei ao seu lado e disse: " oi Marcelo, tudo bem? Me desculpa se te atrapalhei com as conversas, viu? Não foi minha intenção. Na próxima vez vou ficar mais atenta e não conversar tanto para não te atrapalhar."
Ele ficou sem reação e senti um pouco de desconforto vindo dele, como quem recebe um presente e não sabe muito bem o que fazer com isso.
Ele me disse que andava muito ansioso e o falatório atrapalhava muito, e eu falo demais. Insisti nas desculpas. Ele continuou com jeito (e cara) de quem não sabe muito bem o que fazer e me disse: “você é uma menina muito bonita, educada, inteligente, eu fui grosso sem querer, às vezes eu reajo assim mesmo, peço desculpas”. Aceitei e segui para minha casa. E, para minha surpresa, assim que virei as costas pra ele, meu olho começou a soltar água.
Sinceramente, não sei dizer se foi de tristeza, alívio, ou emoção.
O que o Marcelo não sabe é que eu também tenho me sentido ansiosa nas últimas semanas, bastante. Então viver aquela situação desconfortável me trouxe alguns gatilhos.
Platão disse algo que se tornou um grande clichê hoje: seja gentil com as pessoas pois cada um está lutando uma batalha que você não pode ver.
Por algum motivo, que eu não entendo e provavelmente nunca entenderei, o Marcelo não conseguiu ser gentil comigo naquela sexta feira. Mas, mesmo ferida, eu tive a oportunidade de fazer diferente.
No fim, agora que escrevo, estou chegando à conclusão que, ao virar as costas pra ele, talvez eu tenha chorado de orgulho. Orgulho por não ter retribuído na mesma moeda (mesmo querendo, acredite). Orgulho por perceber que a Ana de 3 anos atrás provavelmente bateria boca com ele ali na aula. E, principalmente, por estar moldando meu mindset para escolher o amor e não a dor.
Não é sempre que consigo. Mas, naquela sexta feira eu consegui. E isso já é motivo suficiente para celebrar.
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