São Paulo 23 de julho de 2023
A Beta trabalha comigo desde janeiro de 2023. Nesses 6 meses juntas, desenvolvemos uma relação de amizade muito gostosa além do trabalho.
Algumas semanas atrás ela me contou que uma pessoa muito querida para ela faleceu. E o pior: recebeu a notícia enquanto passava férias com sua mãe em uma ilha paradisíaca. Não que tenha lugar certo para receber uma notícia dessa, mas, estar feliz pela viagem e ao mesmo tempo sentir a dor do luto deixou tudo confuso em sua cabeça
"Como pode? Sentir alegria e tristeza ao mesmo tempo?" ela me questionou.
Sinceramente, não soube responder.
Se, de acordo com os princípios da física, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, poderia dois sentimentos opostos habitarem simultaneamente o mesmo coração?
Minha cabecinha humana e racional busca sempre encontrar sentido para as coisas. Mas, quanto mais eu vivo (e sinto), mais percebo que o sentir nem sempre faz sentido.
Dias depois, a Beta pediu demissão. Ela queria embarcar numa nova aventura: a Austrália. Agora, era minha vez de sentir a dualidade de sentimentos. Feliz por ela e triste por mim e pela minha empresa por "perder" alguém incrível.
O sentir nem sempre faz sentido.
Dia desses, me deparei com um poema de Cecília Meireles, que, coincidentemente (ou não) veio a calhar perfeitamente na filosofadas que eu estava fazendo sobre isso:
"Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo."
Talvez, o poema faça sentido para os princípios da física, onde dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Mas não para as matérias do coração, talvez não.
Quando se trata de sentimentos, facilmente conseguimos substituir o OU por E.
Sinto que o tema insistente da minha vida nos últimos meses é esse: aprender que o sentir nem sempre faz sentido.
Então, estou tentando ser uma boa aprendiz e buscando me permitir sentir tudo (mesmo, e principalmente, quando não faz sentido).
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