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Foto do escritorAna Mendes

Quando tudo não é o bastante

São Paulo, 19 de janeiro de 2024 


Quando eu tinha lá meus 17/18 anos, eu olhava para as pessoas 10 anos mais velhas do que eu pensava que elas já tinham tudo resolvido. Cresci buscando chegar nesse lugar de sucesso e resolvido da vida e fiz deste meu maior projeto, acreditando que, quando eu chegasse lá, seria feliz.


Mas, pra minha surpresa, o que aconteceu foi que o lá, rapidamente, parou de ser o suficiente. E então, parti para outro grande projeto de vida, e o outro e depois mais um…


E assim segui, nessa busca incansável da felicidade, da sensação de sucesso, da realização profissional e pessoal. Pulando de um emprego para outro, de uma cidade para outra, de uma relação para outra…


Seria a eterna sina do ser humano viver insatisfeito? Viver querendo mais?


Comecei a me questionar isso a partir de uma pergunta que minha terapeuta me fez alguns dias atrás. Comentei com ela que, naquele momento, tudo estava quase perfeito na minha vida. Tenho absolutamente todas as minhas necessidades básicas (e além) supridas, uma família unida e com saúde, amigos incríveis que me proporcionam uma vida social gostosa, um namorado com quem compartilho a vida de uma maneira que me preenche, moro em um apartamento aconchegante e muito em breve vou me mudar para o meu próprio cantinho, que estou reformando para se tornar literalmente um oásis de paz em meio a caótica São Paulo.


"E o que falta então?" Questionou minha terapeuta já sabendo exatamente a resposta.


Sucesso profissional. Respondi.


Amo o que faço, mas, ainda não cheguei profissionalmente onde gostaria, o que dá motivo para a insatisfação, com frequência, vir metendo pé no peito. E isso estava, literalmente, me tirando o sono e muita saúde mental. Eu gastava quantidades absurdas de energia me cobrando para atingir os objetivos profissionais que criei na minha cabeça.


Mas será que fui eu mesma que criei? Ou fui ensinada a acreditar que, se eu não for produtiva e tiver bons resultados a todo tempo, não tenho muito valor?


Inegavelmente, vivemos em uma sociedade que nos ensina a ser útil e produtivo. E não tem nada de errado nisso. O problema está em medir nosso valor de acordo com o nosso desempenho (principalmente profissional). Não à toa a maioria das pessoas têm tanto medo de envelhecer. A velhice nos deixa menos produtivos, diminuindo assim o nosso valor para a sociedade.


Mas esse questionamento me fez pensar: e o desempenho moral? Pessoal? Sabemos que a sociedade dá muitos créditos para aqueles que influenciam, conquistam altos cargos, inúmeros bens materiais e um admirável status social.

Mas e aqueles que escolhem não dizer palavras raivosas quando estão fervendo por dentro? Ou os que não caem em tentações? Os que buscam ser sempre gentis e amáveis com todos que encontram no caminho? Os que escolhem não mentir? Não ferir? Os que ensinam e são pacientes?


Ser uma pessoa íntegra, compassiva e bondosa em um mundo com tantas tentações para ser o contrário, também é um feito que deve ser admirado.

Não quero enxergar a vida apenas como um checklist de coisas a conquistar. Porque se eu continuar olhando para ela como uma infinita corrida de conquistas, como nos fazem acreditar, realmente, vou viver eternamente insatisfeita.


Com o estranho sentimento de que tenho tudo, mas ainda sim, não é o bastante.


É nessas horas que preciso me lembrar de que a vida vai muito além de conquistas profissionais. E quando olho para todas minhas conquistas pessoais, percebo que tenho motivo o bastante para me orgulhar. Por isso, hoje, só por hoje, acalmo minha mente barulhenta que quer produzir resultados rápidos e dou créditos ao meu coração por todas as jornadas que decidiu percorrer para me transformar em quem eu sou hoje. E essa pessoa, já é o bastante!


Do meu coração para o seu,

Ana

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